CULTURA

Como eram as casas antigamente?

As casas típicas da burguesia medieval eram construídas em dois pavimentos, funcionando no piso inferior uma loja ou oficina. O andar superior possuía um único ambiente, o “salão”. A casa medieval era mais um lugar público do que privado. O salão era usado para diversas funções: comer, cozinhar, entreter convidados, fazer negócios e dormir. Além da família havia empregados, criados, afilhados, e até dormir era uma atividade comunitária, para a qual não existia privacidade. A partir do século XVIII, a casa deixa de ser um local de trabalho e torna-se menos pública, diminuindo de tamanho. Mas, no século XIX, a concepção de privacidade tomou força.

No Brasil, desde o período colonial, as atividades da casa foram separadas verticalmente – o público localizado abaixo e o privado, acima. Subir ou descer não significava apenas mudar de andar, mas se retirar ou participar da companhia dos outros. A sensação de intimidade e privacidade era gerada pelo equilíbrio entre o que era privado e público.

Em meados do século XIX, houve uma redefinição das casas em seus lotes, entre o público e o privado. A casa se isola no lote, o público deixa de ser a rua, e uma nova região é demarcada no território da casa, “a sala de visitas”. Assim, o ritual de receber uma visita tinha requintes barrocos, pois significava abrir o espaço da casa para um estranho.

Na segunda metade do século XIX, houve, nas residências mais abastadas, uma reformulação no espaço interior da casa, definindo-se em três áreas: social, íntima e de serviços. Na área social, a sala abre-se para um público selecionado, expressando símbolos de riqueza e poder. Na área íntima, as alcovas transformam-se em quartos, resguardando intimidades individuais e do casal. A área de serviços distancia-se das zonas de estar – o escravo ou empregado terá o seu próprio espaço, afastado da intimidade da família.

A sala de estar era um lugar de performance feminina. No século XIX, usou-se a denominação de “mulher da sala” para designar aquela anfitriã que deveria brilhar nos momentos de recepção doméstica e nos encontros da alta sociedade. A noção de conforto tornou-se hoje sinônimo de refúgio e também onde as forças masculinas e femininas desgastadas pelo dia a dia serão restabelecidas para um novo dia.

As modificações ocorridas na sociedade e no espaço de habitar tornaram-se responsáveis pelas alterações nos hábitos, nos rituais familiares e no cotidiano do indivíduo, e tais modificações são o espelho das casas de hoje.